sábado, 25 de fevereiro de 2012

Educar - a paixão de ser no mundo

Educar - a paixão de ser no mundo
Madalena Freire (2010)


 Somos, enquanto pessoa humana, marcados pela incompletude, pela falta. É da falta que nasce o desejo.
Porque sempre falta, somos sujeitos desejantes.
Porque nunca estamos satisfeitos (só temporariamente...) sonhamos, temos futuro.
Sem a falta, não existiria desejo, nem sonho, nem futuro, nem sujeito autor do destino.
Sem a consciência da falta, não existiria aprendizagem humana, apropriação do sonho presente e futuro, mas sim adestramentos.
Somos, enquanto pessoa humana, marcados por nossa capacidade de aprender, buscar o que nos falta, desejamos.
Mas nem tudo que desejamos podemos. O desejo é ilimitado, o poder é limitado. Por isso, necessitamos educar nossos desejos para um exercício real de nosso poder.
 O que desejo? O que posso?  Ao que não posso dar vida, nesta realidade atual, nesse meu desejo?
O que há de morte, sonho de paralisia, no que venho desejando?
Nem tudo que desejamos nos impulsiona para a produtividade da vida. Há desejos, energia de vida e de morte, que ao mesmo tempo nos constituiu e nos habita. Desejos esses, que necessitam ser educados.
Desejos de vida são aqueles que nos impulsionam para os conflitos, para os problemas na busca de sua superação, transformação, mudança.
Desejos de morte, pelo contrário, nos empurram ao não enfrentamento das dificuldades, dos problemas, dos conflitos, deixando-os resguardados e acomodados na repetição, na mesmice da reprodução e, portanto, no pensar reflexivo.
Enquanto vida é pensar, refletir sobre os conflitos, as diferenças, divergências,  diversidades da realidade para transformá-las; morte é acomodação, paralisia deste pensar reflexivo, repetição de respostas falecidas que não surtem nenhuma mudança em nossa prática. Mas é necessário morrer para o velho para nascer o novo.
Pensar-se e assumir-se enquanto sujeito desejante de vida e morte é educar a paixão. Paixão de aprender, paixão de ensinar.
Ensinar possibilitando, investigando, provocando cada aluno a assumir a educação de seus desejos, vôo único de libertação, para a construção de sua autoria e destino.
“Que ato de feitiço faz adormecer esse educador que existe em nós? Nos donos do poder temos a explicação: eles nos castram “. Mas nós também procuramos e consentimos muitas vezes em seguir esse caminho.
E por que não assumir o que somos integralmente?
Por que não viver esse todo que somos?
Por que não assumir a vida?
Há vários momentos na vida em que o nascimento se repete. No primeiro, a vida nos é dada como uma oferenda, como um presente.
Mas, deste momento em diante, nós é que temos de lutar pelo nosso renascimento, crescimento constante, permanente.
Onde viver é lutar contra as mortes invisíveis, onde viver é conquistar constantemente a vida. Não se está vivo simplesmente porque o coração está batendo...
Acredito que cada educador tem   como desafio viver essa vida com cada um de seus educandos.
Cada educador tem como desafio gerar o re-nascimento-crescimento de cada um.
Cada educador deve viver essa sua inteireza com cada educando.
Porque o que vale é a relação amorosa que o liga a cada um. E cada um é um, com um NOME, com uma história, sofrendo tristeza e tendo esperança.
Não existe educador fora deste ato de amor.
Ato de amor a nós mesmos, quando nos assumimos como nossos sonhos, nossos limite; ato de amor pelos outros quando os acolhemos com seus limites  e sonhos.
O grande desafio é manter-se acordado, vivo, para poder acordar os outros. Viver com os outros.
Que vida poderei viver com meus alunos, se não estou com minha vida nas mãos? Se não estou sendo eu mesma, na minha totalidade?
Educar (conhecer) não é dividir em pedacinhos, é viver a totalidade.
Não existe educação sem conhecimento, sem amor, sem esses temperos que condimentam o sentido da vida, da educação.


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